Espacios. Vol. 24 (2) 2003

Política e gestão da inovação tecnológica: Estudo comparativo da evolução da disciplina no Brasil e na Ibero-América

Política y gestión de la innovación tecnológica: Estudio comparativo de la evolución de la disciplina en Brasil y en Iberoamérica

Policy and management in technological innovation: comparative study of the discipline in Brazil and Iberoamerica

Roberto Sbragia, Ivete Rodrigues, Maria Selma Baião y Tarcízio Rego Quirino


3.2 O sistema de autoria

Autores como Presser (1980); Souza e Hoyos (1986); Quirino & Baião (1987); Quirino, Baião & Rodrigues (1998 e 2002); e Sebastián (1998) apontam uma tendência de aumento do número de trabalhos realizados em regime de co-autoria. O último autor sugere que este fato seja reflexo do crescimento das redes de trabalho de pesquisa científica, assim como da internacionalização dos processos de geração do conhecimento.

A posição dos autores acima parece estar fortalecida quando se analisa o gráfico 2, que confirma a ascensão do sistema de co-autoria tanto nos trabalhos apresentados no SIGITEC como no ALTEC, notadamente a partir de 1992/1993. Antes desse período, o número de co-autorias não foi predominante, registrando índices inferiores a 50%. Tais dados indicam que a tendência de aumento de compartilhamento da produção do conhecimento sobre política e gestão de inovação tecnológica parece recente na região, pois passou a predominar apenas na última década.

Nos eventos do SIGITEC a porcentagem de artigos escritos em co-autoria superou os da ALTEC ao longo de todo o período em estudo, exceção feita ao ano de 1991. Na média, o número de contribuições em co-autoria do SIGITEC é 18% superior ao do evento ALTEC, evidenciando maior tradição de cooperação entre os autores brasileiros.  Não obstante, é possível verificar nos dois eventos a continuação da tendência de aumento da divisão do trabalho social e a participação crescente de redes cooperativas como contexto usual da produção de Ciência & Tecnologia. Além disso, tais evidências descrevem o contexto mesmo do surgimento e fortificação da disciplina e da pesquisa na área de conhecimento em pauta.

3.3 A freqüência de autores

Analisando os números do gráfico 3 e comparando os mesmos com os disponíveis no gráfico 1 anterior, encontramos que a relação média de trabalho por autor nos 20 eventos é de 1,93 (4.212 autores para 2.174 trabalhos). Há uma relação bem próxima entre este número e aqueles verificados no total de eventos SIGITEC e ALTEC, ou seja, 1,68 e 1,96 trabalhos por autor, respectivamente, ao longo do período focado.

O número de autores do SIGITEC é cerca de 5,5% maior que o do ALTEC se comparado o total de autores nos 20 eventos. Porém, esta comparação é indevida, uma vez que houve no período um número maior de eventos SIGITEC realizados. A comparação justa é a média de trabalhos por autor nos dois eventos separadamente e, nesse caso, a ALTEC tem uma média maior que o SIGITEC. Ainda assim, pode-se considerar que a variação é pequena e os dois eventos apresentam números bastante semelhantes no que diz respeito à participação de autores.

Percebe-se no gráfico, em ambos os casos, o mesmo comportamento já apontado anteriormente quanto ao ciclo 1996-2002, ou seja, um aumento significativo no número de autores ao longo deste período, passando dos patamares de 200 e 273 autores entre 1996 e 1998 para 427 e 460 entre 2000 e 2002 (SIGITEC) e, no caso da ALTEC, de 420 para 583 entre 1997 e 1999, declinando no último (2001) para 432 autores. Estudos anteriores (Quirino et alii, 2000 e 2001) apontam para um crescimento maior de autores que de trabalhos em ambos os eventos, em decorrência do crescente aumento no número de artigos co-autorados.

No que diz respeito à origem geográfica dos autores (dados não demonstrados graficamente), os números coletados pelos autores indicam que, no caso do SIGITEC, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais são os estados mais representados no Seminário. O Estado de São Paulo continua com quase 1/3 dos trabalhos apresentados. Os dados indicam que os autores dos Estados menos desenvolvidos, especialmente das regiões Norte e Nordeste do país, ainda não alavancaram sua produção acadêmica no simpósio, mantendo, durante todo o período, média semelhante de apresentações de trabalhos. No caso do Seminário ALTEC, o mesmo comportamento ocorre com países menos desenvolvidos. Países com pouca tradição em investimentos em P&D, como Equador, Peru, Uruguai e outros (RICYT, 2002) praticamente não são produtores de conhecimento para o ALTEC.

Portanto, tanto em termos brasileiros, quanto ibero-americanos, são necessárias ações de estímulo à produção científica nas regiões menos desenvolvidas. O simpósio brasileiro tomou medidas neste sentido, realizando sua vigésima segunda edição na região nordeste do país, com o objetivo de contribuir para diminuir essas desigualdades regionais.

Os mesmos números indicam que cerca de 1/3 dos trabalhos apresentados no ALTEC são produzidos por brasileiros. A produção de artigos no SIGITEC, na maior parte de autores brasileiros, quase que acompanha toda a produção da ALTEC. Na comparação entre os dois seminários, nota-se que a participação brasileira no ALTEC corresponde a quase metade dos autores que participam no SIGITEC, mostrando o interesse em cooperação com a América Latina dessa significativa porcentagem de participantes do seminário realizado no território brasileiro.

3.4 Produtividade institucional

O gráfico 4 demonstra que as instituições acadêmicas abrigam a maioria dos trabalhos publicados, com 63% nos eventos ALTEC e 55% no SIGITEC. A grande concentração em universidades indica que o processo de desenvolvimento da disciplina no mundo ibérico tem acontecido sob a liderança de grupos mais ou menos numerososde pesquisadores institucionalmente concentrados que, durante longos períodos, manejam e fazem progredir seu estudo e disseminação.

Em seguida, aparecem as instituições de pesquisa, com 13% no ALTEC e 25% no SIGITEC. Há, nesse caso, uma diferença significativa na relação entre os dois eventos, o que pode sugerir que as organizações acadêmicas e as de pesquisa adotam uma lógica diferente de prioridades de participação em reuniões científicas e até de participação e contribuição à disciplina. Enquanto as organizações acadêmicas priorizam a difusão dos resultados, as organizações de pesquisa podem dar prioridade à utilização prática dos mesmos. Excetuando-se este ponto, os dados evidenciam uma forte semelhança entre os dois eventos no que diz respeito à produtividade institucional.

As demais organizações contribuíram, respectivamente com 10% (ALTEC) e 6% (SIGITEC) dos autores originários de agências governamentais e 7% (ALTEC) e 8% (SIGITEC) de empresas privadas. Embora ainda pequena, a participação das empresas têm aumentado significativamente nos dois eventos. Por exemplo, nos dois últimos eventos do seminário ALTEC (1999-2001), números coletados nesta pesquisa indicam que quadruplicou a participação das empresas privadas.

O gráfico 4 mostra que nos dois eventos a participação das entidades acadêmicas supera em muito os outros tipos, com exceção das de pesquisa que chegam à metade das acadêmicas no SIGITEC. Nos dois últimos eventos de cada seminário o número de empresas aumentou significativamente. O ALTEC 2001, mesmo com o número menor de artigos se comparado a anos anteriores, mostra o claro aumento da participação das empresas. Além disso, sabe-se que, em alguns casos, os autores das entidades acadêmicas ou de pesquisas estão ligados a empresas, mas apresentam trabalhos por aquelas entidades devido a vínculos acadêmicos concomitantes de estudo ou de magistério.

Ao analisar os dados dos dois eventos em separado, não representados aqui graficamente por limitações de espaço, observa-se que as 29 instituições com mais autores do SIGITEC representam 54% do total enquanto que as 26 instituições com mais autores do ALTEC representam 29% do total de autores, denotando uma maior concentração institucional no SIGITEC. A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, por exemplo, alcança 158 participações no SIGITEC contra 45 participações no ALTEC. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul a relação é de 94 trabalhos no SIGITEC contra 43 no ALTEC. A Universidade Federal do.Rio de Janeiro, por sua vez, alcança 126 no SIGITEC contra 36 participações no ALTEC. Portanto, o ALTEC alcança um maior leque de instituições. Tal fato se deve, principalmente, ao escopo de cada um dos eventos: o SIGITEC se concentra em apenas um país, o Brasil, enquanto que o ALTEC tem sede itinerante no âmbito da região ibero-americana.

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