Espacios. Vol. 36 (Nº 19) Año 2015. Pág. 1

Efeitos da crise internacional sobre as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados, 2000 a 2011

Effects of international crisis on brazilian exports of commodities and semi-manufactured from 2000 to 2011

Camila Soares BATALHA ;Viviani Silva LÍRIO; Talles Girardi de MENDONÇA; Daniel Arruda CORONEL 1

Recibido: 08/06/15 • Aprobado: 25/08/2015


Contenido

1. Introdução

2. Referencial teórico

3. Metodologia

4. Análise e discussão dos resultados

5. Conclusões

6. Referências


RESUMO:

O presente trabalho tem como objetivo avaliar os impactos da crise econômica internacional sobre as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para os principais parceiros comerciais, no período de 2000 a 2011. Neste sentido, como procedimento metodológico, realizaram-se estimações de três equações gravitacionais, pelo método de efeitos fixos, por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Os resultados obtidos mostram que a crise internacional restringiu as exportações brasileiras, sofrendo impactos pela queda do nível de renda dos países, bem como pela oscilação das variáveis macroeconômicas.
Palavras-Chave: Crise Econômica; Exportações; Modelo Gravitacional

ABSTRACT:

This study aims to evaluate the impact of the international economic crisis on Brazilian exports of basic manufactured goods and semi-manufactured to major trading partners from 2000 to 2011. In this sense, the methodological procedure involved estimations of three gravitational equations, by the method of fixed effects, by ordinary least squares (OLS). The results show that the international crisis has restricted the Brazilian exports, which suffered impacts because of the decrease of income level of countries, as well as the fluctuation of macroeconomic variables.
Keywords: Economic crisis; exports; Gravitational Model

1. Introdução

A crise financeira internacional, iniciada no mercado americano de hipotecas de alto risco em meados de 2007, em decorrência da elevação da inadimplência, da desvalorização dos imóveis e dos ativos financeiros associados às hipotecas americanas de alto risco (subprime), teve como marco a falência de um banco de investimentos, nos Estados Unidos, em 2008. Este evento, originado, portanto, em um processo doméstico, expandiu-se para uma crise global e sistêmica, propagando-se de variadas formas e em diferentes graus por toda a economia mundial.

Para Farhi e Cintra (2008), foi a estrutura característica do sistema financeiro norte-americano que converteu uma crise de crédito clássica em uma crise financeira e bancária de grandes proporções, conferindo-lhe, portanto, caráter sistêmico. A profundidade da crise, que ainda traz reflexos significativos sobre o sistema financeiro mundial, expandiu-se para além das fronteiras monetárias e provocou impactos sobre a evolução dos agregados econômicos reais, como produção, investimento e emprego, afetando, por decorrência, as relações comerciais entre as nações.

Em consequência, a crise financeira interrompeu uma trajetória de crescimento dos fluxos internacionais de comércio, que, até 2008, refletia e retroalimentava o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e impactou os países em momentos diferentes. A queda do PIB começou a ser registrada no segundo trimestre de 2008, na Zona do Euro e no Japão, e, no terceiro trimestre, nos EUA. Entre os países em desenvolvimento, a reversão na tendência de crescimento do PIB, para a maioria deles, foi mais variada: enquanto no Chile a queda foi acentuada no terceiro trimestre de 2008, na Argentina, na Coreia do Sul e no Brasil, a redução mais abrupta do nível de atividades ocorreu no primeiro trimestre de 2009 (CASTILHO, 2011).

Para Castilho (2011), a crise financeira internacional interrompeu o ciclo de crescimento do comércio exterior brasileiro. Ela se propagou para o lado real da economia por intermédio de diversos canais de transmissão − financeiros e reais −, entre os quais dois se destacam. Em primeiro lugar, o comércio exterior, fortemente afetado pela queda da demanda externa e dos preços das commodities. Em segundo, a deterioração das expectativas e a abrupta saída de capitais que levaram a uma desvalorização do real.

De acordo com a Associação de Comércio Exterior (AEB, 2012), os Estados Unidos e a União Europeia absorviam, à época da deflagração da crise, quase 35% das exportações brasileiras, sendo natural que uma recessão nesses mercados tenha resultado em um efeito colateral na demanda mundial, com inevitável repercussão redutiva nos preços das commodities e eventual geração de déficit comercial. Atualmente, os principais países de destino das exportações brasileiras são a China (absorvendo 17,3% do total das exportações brasileiras - computados os produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados), Estados Unidos (participação de 10,1%), Argentina (8,9%), Holanda (5,3%), Japão (3,7%) e Alemanha (3,5%) (AEB, 2012).

Diante deste contexto e tendo-se em vista a integração das economias e a disseminação da crise sobre as nações, o presente trabalho busca responder a seguinte questão: de que forma a crise econômica iniciada nos Estados Unidos, instalada na Europa e propagada na economia global impactou sobre as exportações brasileiras dos produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados? Considerando as análises empíricas e o comportamento do mercado no período analisado, a hipótese central da pesquisa é a de que a crise internacional contribuiu para limitar as exportações brasileiras, sendo o seu efeito mais efetivo sobre as exportações de produtos manufaturados.

Desta forma, conhecer os mecanismos que regem o comércio brasileiro com seus parceiros comerciais se torna de extrema relevância para avaliar os reais impactos da crise sobre as exportações brasileiras.

Com essa finalidade, este trabalho visa avaliar os impactos da crise internacional, iniciada em 2007, nos Estados Unidos, sobre as exportações brasileiras no período de 2000 a 2011. Especificamente, pretende-se mensurar o impacto da crise internacional e de variáveis macroeconômicas selecionadas sobre as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para os principais parceiros comerciais do Brasil.

O artigo está estruturado em quatro seções, além desta introdução. Na segunda seção, é apresentado o referencial teórico; na seção seguinte, os procedimentos metodológicos são detalhados, na quarta, os resultados obtidos são analisados e discutidos e, por fim, são apresentadas algumas considerações finais.

2. Referencial teórico

2.1. Teorias do comércio internacional

A intensificação das relações econômicas, políticas e sociais entre os países intensificaram-se como consequência do processo de globalização e, neste sentido, torna-se fundamental a compreensão das relações competitivas entre os países no comércio internacional.

A primeira teoria que buscou explicar as interações entre os países no comércio internacional foi a Teoria das Vantagens Absolutas proposta por Adam Smith. De acordo com essa teoria, as nações deveriam especializar-se na produção da commodity a qual produzissem com maior vantagem absoluta e trocar parte de sua produção pela commodity que produzissem com menor desvantagem absoluta (SMITH, 1937).

Essa teoria não explicava totalmente as bases do comércio, visto que, se uma nação não apresentasse nenhuma vantagem absoluta, não poderia participar do comércio. David Ricardo (1967) tenta corrigir estas falhas da teoria de Adam Smith ao expor, no The principles of political economy and taxation, que, mesmo que uma nação possua desvantagem absoluta na produção de ambas as commodities, ainda assim haveria uma possibilidade de comércio, desde que a nação se especializasse na produção de sua commodity de menor desvantagem absoluta.

Contudo essas teorias ainda não explicavam os efeitos do comércio internacional, visto que passavam a ideia de que o comércio sempre era benéfico aos participantes. Então, com o objetivo de explicar a distribuição de renda entre os proprietários dos fatores produtivos, surge a Teoria das Proporções dos Fatores proposta por Eli Hescksler e Berthil Ohlin.  

O Teorema de Heckscher-Ohlin pode ser resumido da seguinte maneira: cada nação exportará a commodity intensiva em seu fator abundante de produção e importará a commodity que exija a utilização do seu fator escasso e caro de produção (WILLIANSON, 1998).

Segundo Salvatore (1999), o Teorema de Hecksher-Ohlin baseia-se nos seguintes pressupostos: existem duas nações e dois fatores de produção (capital e trabalho); a tecnologia está disponível no mundo; a commodity x é mão de obra intensiva e a commodity y é capital intensivo em ambas as nações; ambas as commodities são produzidas sob retornos constantes de escala; existe especialização incompleta, na produção de ambas as nações; cada país compartilha padrões de preferências idênticos e homotéticos; existe concorrência perfeita em ambas as nações; há mobilidade perfeita dos fatores de produção em ambas as nações, contudo ausência de mobilidade internacional dos fatores; ausência de custos, tarifas e obstáculos ao comércio; todos os recursos são plenamente ocupados em ambas as nações; e o comércio internacional entre ambas as nações encontra-se em equilíbrio.

Os pressupostos formulados por Heckscher-Ohlin tiveram grande importância e influência nas teorias de comércio internacional subsequentes. A partir dela sugiram outras, merecendo destaque a Teoria de Linder, o Ciclo do Produto, desenvolvido por Vernon, e o Modelo de Defasagem Tecnológica, postulado por Posner (SALVATORE, 1999).

As teorias para a compreensão da competitividade no comércio internacional tiveram uma nova conotação a partir da Teoria das Vantagens Comparativas Reveladas propostas por Bela Balassa, em 1965. Essa teoria tem como objetivo identificar para quais commodities um país apresenta Vantagem Comparativa na Produção e na Exportação. Nessa teoria, a Vantagem Comparativa é considerada como revelada, pois sua quantificação se baseia em dados ex-post, ou seja, em dados pós-comércio (BALASSA, 1965).

Contudo, a teoria apresenta algumas limitações, pois, ao analisar as Vantagens Comparativas Reveladas, não considera questões relacionadas ao protecionismo tais como barreiras tarifárias e não tarifárias, mudanças cambiais, dentre outras variáveis, por isso  tornam-se fundamentais teorias da competividade que levam em conta essas variáveis (HIDALGO, 1998).

As teorias de comércio em geral possuem explicações dúbias para definir competividade, visto que, para determinadas correntes, têm sendo vistas como fenômenos macroeconômicos e, para outras, como dotações de fatores (PORTER, 1998).

Com a  intensificação do processo de globalização, da inovação tecnológica e da dotação de fatores comparáveis, enfraqueceram-se as vantagens comparativas que determinadas nações tinham, visto que as indústrias compensam os fatores escassos por meio de novos processos (PORTER, 1999).

   Ainda nesta perspectiva, Baumann, Canuto e Gonçalves (2004) destacaram que o comércio internacional está cada vez mais intenso, por meio das transações de bens e serviços e dos fluxos de moeda e investimentos. Essas relações se tornaram essenciais para determinadas nações, em virtude da participação das exportações e importações na renda nacional. Assim, o aumento na renda de um país faz crescer a sua demanda por bens importados, e, consequentemente, as importações de um país são as exportações de outro.

De maneira análoga, o aumento nas taxas de juros de um país atrai capital de outros, o que resulta no aumento das taxas de juros dos demais países. As alterações nas taxas de inflação e câmbio causam alterações no câmbio real, que muda os padrões de comércio entre os países. Variações na taxa de desemprego provocam alterações no produto da economia, que, a "priori", define a capacidade de importação e exportação de um país.  Dessa forma, fica evidenciado o vínculo entre as variáveis econômicas internas e os países, o que resulta em interdependências entre as nações.

Assim, o comércio entre as nações deixa de ser explicado essencialmente pela disponibilidade de fatores e passa a ser entendido como resultado das decisões premeditadas das instituições e dos governos dos países, isto é, o comércio entre as nações pode ser afetado tanto por fatores macroeconômicos (taxa de juros, taxa de inflação, taxa de câmbio, renda doméstica e mundial, tributos etc.) quanto por fatores estruturais (distância, infraestrutura, tecnologia, etc.). De acordo com Oliveira (2007), a visão macroeconômica é de grande importância para avaliar o desempenho das exportações, fazendo o uso, principalmente, do câmbio real e da renda externa como um dos determinantes das exportações.

Neste contexto, a teoria econômica assinala diversos fatores que influenciam os fluxos de comércio entre os países e os preços relativos, tais como os custos de transporte, as tarifas e as barreiras não tarifárias. Porém, outros fatores como o tamanho dos países (PIB) e a distância entre eles vêm ganhando grande importância com o uso do modelo de gravidade.

De acordo com Krugman e Obstfeld (2010), o modelo de gravidade possui bom funcionamento, pois grandes economias tendem a gastar mais por possuírem maiores rendas, da mesma forma que tendem a atrair gastos de outros países por produzirem diversos tipos de produtos. Em relação à distância, além dos custos envolvidos com o transporte, existe a possibilidade de a proximidade física facilitar as negociações entre os países.

A lógica de inserção de variáveis macroeconômicas em equações gravitacionais fica evidenciada pela grande relevância que tais variáveis possuem para explicar o comportamento das exportações, dado que uma das variáveis básicas do modelo de gravidade, o PIB, é uma variável macroeconômica de grande relevância. Além disso, diversos trabalhos já adotaram a inserção de variáveis macroeconômicas em equações gravitacionais, demonstrando expressivo sucesso em sua aplicação. Dentre estes trabalhos, cita-se como exemplo o de Bittencourt et al. (2007), que analisa os impactos da volatilidade da taxa de câmbio sobre o comércio setorial do Mercosul.

Por fim, vale ressaltar que, empiricamente, assumindo que cada país exporta produtos diferenciados com perfeita especialização, entre os diversos autores que avaliaram empiricamente o modelo de HO encontram-se Bergstrand (1989), Deardorff (1998) e Anderson e Van Wincoop (2003, 2004), que relacionaram o modelo teórico HO com o modelo gravitacional, demonstrando que uma simples equação de gravidade pode ser derivada das teorias tradicionais de comércio.

2.2 O Modelo Gravitacional

O modelo gravitacional possui larga aplicação nas ciências sociais aplicadas, sendo empregado no estudo de diferentes tipos de fluxos inter-regionais e internacionais, incluindo migração de trabalhadores, consumidores e comércio internacional (CHENG; WALL, 2005).

A equação gravitacional foi fundamentada em ideias retiradas da "Lei da Gravitação Universal" de Isaac Newton, em que o cientista postulou que a força da gravidade entre dois corpos é definida como diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional à distância entre eles.

A utilização desse modelo para explicar as relações econômicas e comerciais foi inicialmente realizada por Tinbergen (1962), que propôs que as relações bilaterais de comércio eram determinadas pelo tamanho econômico de cada parceiro comercial, usualmente representado por seus respectivos PIB's, e pela distância geográfica entre eles (ALMEIDA; SILVA, 2006). Dessa forma, a premissa básica do modelo, em sua forma mais simples, aplicado ao comércio internacional, é que o volume de comércio entre dois parceiros comerciais é uma função crescente de suas rendas, utilizadas como proxies para o tamanho do mercado em cada país e medidas pelos PIB's, e decrescente em relação à distância entre eles, geralmente interpretada como proxy dos custos de transporte entre países.

Os primeiros trabalhos que utilizaram o modelo gravitacional foram criticados por falta de embasamento teórico na determinação da equação gravitacional. Entretanto, com o surgimento de novas teorias do comércio, este modelo passou a ter um maior embasamento. Helpman e Krugman (1985) e Bergstrand (1989) mostraram que o modelo gravitacional pode ser derivado de um modelo de comércio com diferenciação de mercadorias e competição monopolística. Deardorff (1998) demonstrou que ele também pode ser consistente com a teoria de comércio de Heckscher-Ohlin.

Segundo Kume e Piani (2000), a justificativa teórica mais difundida para a utilização dessa modelagem remonta ao modelo de comércio desenvolvido por Krugman (1980), que se refere à existência de rendimentos crescentes e custos de transporte, os quais atuam como um incentivo para a concentração da produção próxima a um grande mercado, resultando em economias de escala e minimização dos custos de transporte.

Os primeiros fundamentos microeconômicos aplicados ao modelo gravitacional partiram do trabalho de Anderson (1989), o qual propôs uma explanação teórica para a equação de gravidade com base na análise do comércio de commodities. Assim, partindo de pressuposições como a grande variedade de bens, fatores que se deslocam por meio das fronteiras regionais e nacionais em circunstâncias diferentes (diferenciação por origem) e demanda determinada por preferências Cobb-Douglas ou Constant Elasticity Substitution (CES) em todos os países, o autor calculou uma equação gravitacional teórica na presença e ausência de restrições ao comércio.

Posteriormente, uma extensão proposta por Anderson e Van Wincoop (2003) e Anderson e Van Wincoop (2004) tornou-se a abordagem teórica que mais tem sido utilizada para dar suporte ao modelo gravitacional. De acordo com Shepherd e Wilson (2008), esse modelo teórico é tido como abordagem padrão. Além disso, por se tratar de um modelo de análise ex-post, ele tem sido utilizado para verificar a magnitude e os efeitos de diversas variáveis sobre os fluxos comerciais, tais como o impacto da aplicação de tarifas, custos de transportes, variáveis financeiras e índices elaborados através de outras variáveis.

Segundo Anderson e Van Wincoop (2004), a estrutura do modelo gravitacional pode ser obtida considerando-se que a alocação do comércio entre países pode ser analisada separadamente da alocação da produção e do consumo dentro dos países. Os autores definiram  como o valor da produção e do dispêndio no país i para o produto (final ou intermediário) da classe k. Segue-se que um modelo é separável se a alocação de  para cada país i é separável da alocação bilateral do comércio entre países, assumindo-se, adicionalmente, preferências e tecnologia separáveis. Cada classe de produtos tem um agregador natural de variedades, distinguidos por país de origem.

De acordo com Mendonça (2011), uma das vantagens da abordagem de Anderson e Van Wincoop (2004) é que os modelos separáveis de comércio não requerem suposições sobre a estrutura de produção  ou consumo . O comércio bilateral é determinado em Equilíbrio Geral Condicional onde a produção de todos os bens produzidos em cada país é inteiramente consumida, tal como requerem as condições de equilíbrio de mercado.

Duas suposições adicionais são adotadas pelos autores: o agregador de variedades é idêntico entre países e CES (Constant Eleasticity Substitution) e os equivalentes tarifários ad-valorem dos custos de transação não dependem da quantidade de comércio. A forma CES impõe preferências homotéticas e a homogeneidade equivalente para a demanda de insumos intermediários (MENDONÇA, 2011).

Assim, dada as pressuposições, Anderson e Van Wincoop (2004) procederam à derivação do sistema de equações do qual a equação gravitacional teórica faz parte.

Definindo  como as exportações de i para j para classe de produtos k, a estrutura de demanda CES implica em:

Impondo as condições de equilíbrio de mercado, tem-se:

Resolvendo para os preços de oferta  das condições de equilíbrio de mercado e substituindo o resultado em (1) e (2) obtém-se:

             

Os índices de preços , definidos por Anderson e Van Wincoop (2003) como índices de resistência multilateral, sintetizam a resistência média ao comércio entre um país e seus parceiros comerciais. De acordo com a equação gravitacional teórica, o comércio bilateral, depois de controlar para o tamanho dos países, depende da relação entre as barreiras bilaterais entre i e j e o produto dos seus termos de resistência multilateral.

Os autores também mostraram que é possível a derivação da equação gravitacional teórica levando-se em consideração uma economia com apenas um setor. Para isso, supuseram que os consumidores possuem preferências do tipo CES com mesma elasticidade de substituição entre os bens e diferenciação por origem. Dessa maneira, a equação gravitacional pode ser escrita da seguinte forma:

              

Assim, nesta nova versão do modelo, os índices que representam a resistência multilateral são dados por:

Para finalizar a construção teórica, Anderson e Van Wincoop (2004) destacaram que os custos de transação não observáveis  podem ser representados por uma função log-linear contendo variáveis observáveis que atuariam como proxies representativas dos custos de transação. Assim, as barreiras ao comércio bilateral são assumidas como uma função de variáveis observáveis:

Dessa forma, dada a função de custo de transação, tomando-se o logaritmo de (4), a equação gravitacional teórica representativa dos fluxos comerciais entre os países i e  j é:

3. Metodologia

3.1. Elaboração do Índice de Robustez Macroeconômica

A abordagem macroeconômica e, mais especificamente, a utilização de variáveis macroeconômicas tem sido recorrentes em grande parte dos estudos relacionados aos fluxos de comércio entre os países que buscam captar os efeitos da estabilidade econômica e do desempenho dos agregados econômicos no país de origem e receptor sobre esses fluxos.

Essa abordagem tem como foco estudar o comportamento dos grandes agregados econômicos como, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB), a taxa de juros, a taxa de desemprego, entre outros, ou seja, busca estudar as principais tendências da economia no que diz respeito principalmente à produção, à geração de renda, ao uso de recursos, ao comportamento dos preços e ao comércio exterior. De acordo com Bresser-Pereira (2009), algumas das variáveis macroeconômicas relacionadas ao cenário nos quais as empresas e, por conseguinte, os países necessitam estar atentos são taxa de juros, taxa de câmbio, taxa de inflação, taxa de desemprego, exportações e importações.

Partindo-se deste contexto e tendo em vista que o comércio entre os países é influenciado por diversos fatores de origem econômica, como os mencionados na abordagem teórica, este trabalho verificou o impacto de algumas variáveis sobre as relações comerciais entre os países. Assim, para analisar como o contexto econômico influencia as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados, foi elaborado um índice para cada país considerando variáveis macroeconômicas que se inter-relacionam e possuem importância significativa para demonstrar o desempenho da economia, e, assim, explicar o comportamento das exportações face à crise internacional que causa volatilidade das principais variáveis financeiras, que afetam os preços relativos, e portanto, as exportações. Este índice foi denominado de Índice de Robustez Macroeconômica e foi incorporado na equação gravitacional estimada.

As variáveis utilizadas na elaboração do índice foram selecionadas em razão da relevância que possuem na teoria econômica e no maior efeito exercido sobre a variável de interesse, que são as exportações brasileiras. As variáveis estão dispostas a seguir, sendo que as três primeiras são as variáveis de preços mais importantes da economia e a última, a variável que contempla as questões sociais dos países e, por isso, reflete-se nas condições da economia: a) Taxa de juros: capta os efeitos da tendência ao investimento sobre o nível de produção, uma vez que, com o aumento da taxa de juros, os empresários ficam desestimulados a investir. A elevação da taxa de juros desestimula os investimentos na produção e estimula a poupança. Se os empresários investem menos, a produção cresce menos, o que implica menos renda e menos emprego no país; b) Taxa de inflação: captura os efeitos do aumento do nível geral de preços sobre o comércio, dado que o aumento da inflação influencia nas transações entre os países, pois os preços dos produtos internos tendem a ficar mais caros, incentivando as importações e, consequentemente, diminuindo as exportações; c) Taxa de câmbio: desempenha um papel de grande importância no comércio internacional, pois permite comparar os preços em diferentes países. Portanto, esta variável captura os efeitos das variações nos preços entre os países sobre o comércio, uma vez que afeta diretamente o nível de preços e as exportações. A valorização ou desvalorização da taxa de câmbio de uma economia afeta as transações comerciais e financeiras realizadas entre os países; d) Taxa de desemprego: tende a captar os efeitos do desemprego sobre o produto da economia, porque o elevado crescimento do produto associa-se à diminuição da taxa de desemprego, e, possivelmente, a um aumento do comércio entre países.

A elaboração do índice permite captar o efeito das variáveis macroeconômicas através de uma única variável e também contornar possíveis problemas relacionados à inclusão de variáveis correlacionadas no modelo, como a multicolinearidade. Assim, a elaboração do Índice de Robustez Macroeconômica tem como objetivo captar o efeito da robustez das variáveis selecionadas sobre as exportações, pois estas variáveis tendem a impactar sobre os fluxos de comércio entre os países.

A construção do índice foi realizada por meio do modelo de Análise Fatorial, o qual permite a elaboração do índice que represente de forma adequada o nível de robustez macroeconômica dos países analisados.

De acordo com Mingoti (2005), o modelo de análise fatorial tem como objetivo descrever a variabilidade original do vetor aleatório de variáveis observáveis, em termos de um número menor de variáveis aleatórias, chamadas de fatores comuns e que estão relacionadas com o vetor original de variáveis através de um modelo linear. De acordo com a autora, o que se espera é que as variáveis originais estejam agrupadas em subconjuntos de novas variáveis mutuamente não correlacionadas, sendo que a análise fatorial teria como objetivo o encontro desses fatores de agrupamento.

Embora existam diversos métodos disponíveis para a implementação do modelo de análise fatorial, o método mais utilizado é o de componentes principais, que também foi a opção deste trabalho. Assim, os fatores são combinações lineares de variáveis correlacionadas entre si, que têm como base um grupo original de n variáveis e m observações, de modo a explicarem as correlações entre as variáveis originais. Isto é possível quando as variáveis apresentam certo grau de correlação entre si, de modo que grande parte da sua variância possa ser explicada por fatores comuns a todas elas e não pelos fatores específicos a cada uma. De acordo com Mingoti (2005), o modelo básico da análise fatorial apresenta a seguinte expressão analítica:

O método de componentes principais possibilita ainda a aproximação da matriz de correlações das variáveis do modelo por meio da decomposição espectral dessa matriz, permitindo a determinação da matriz de cargas fatoriais.

Neste caso, é importante ressaltar que, em algumas aplicações, as cargas fatoriais podem não ser diretamente interpretáveis. Em situações como estas, pode-se realizar a transformação ortogonal dos fatores originais (rotação ortogonal) em busca de uma estrutura mais simples de ser interpretada. O objetivo é encontrar um padrão de cargas fatoriais de tal modo que cada variável esteja mais relacionada a um único fator (MINGOTI, 2005).

3.2. Modelo empírico e método de estimação

Com o objetivo de estimar os efeitos da crise internacional sobre as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para os principais parceiros comerciais do Brasil e tomando por base a fundamentação teórica do modelo gravitacional exposta anteriormente, o modelo empírico utilizado neste trabalho é uma modificação do proposto por Anderson e Van Wincoop (2004) esboçado na Equação (11).

Desta forma, foi estimado o modelo básico da equação de gravidade com a inclusão do Índice de Robustez Macroeconômica e de uma variável Dummy para captar os efeitos da crise internacional sobre as exportações brasileiras. Assim, a equação empírica estimada neste trabalho é dada por:

                                             

A variável dependente utilizada nas equações gravitacionais é o valor, em milhões de dólares, das exportações unilaterais brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para os parceiros comerciais selecionados. Para a construção dos fluxos de exportação, foram utilizados dados de importação, uma vez que os dados de importação são mais confiáveis e em geral apresentam maior cobertura. Este procedimento é de aplicação direta, dado que as exportações do país i (Brasil) para o país j correspondem às importações do país j provenientes do país i.

Embora os dados de importação sejam mais confiáveis e geralmente apresentem menor quantidade de fluxos nulos, se comparados aos dados de exportação, alguns fluxos comerciais são declarados como valores nulos nos dados de importação e não nulos nos dados de exportação. Assim, foram confrontados os fluxos de importação e os fluxos de exportação correspondentes. Para as observações em que as importações apresentaram valores nulos e as exportações correspondentes apresentaram valores não nulos, esses valores foram substituídos nas importações. Dessa forma, somente os fluxos comerciais declarados nulos, tanto na base de exportação como na base de importação, é que foram considerados nulos nesta pesquisa. O objetivo desse procedimento, adotado também por Linders (2006) e Mendonça (2011), foi reduzir o número de fluxos comerciais nulos na base de dados utilizada na pesquisa.

A estimação das equações gravitacionais foi realizada seguindo os procedimentos para dados em painel. De acordo com Greene (2008), os dados em painel são uma combinação de dados em corte transversal com séries temporais, em que a mesma unidade de corte transversal (família, empresa, estado ou país) é acompanhada ao longo do tempo. As vantagens na utilização dos dados em painel estão relacionadas à consideração da heterogeneidade individual, maior quantidade de informação, maior variabilidade dos dados, menor colinearidade entre as variáveis, mais graus de liberdade e mais eficiência na estimação.

A escolha do método de estimação é de grande relevância para a mensuração dos efeitos das variáveis explicativas sobre os fluxos de comércio. De acordo com Anderson e Van Wincoop (2004), a estimação de uma equação gravitacional pode ser realizada por meio de um modelo de efeitos fixos por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), utilizando-se variáveis dummies específicas por países para representar os termos de resistência multilateral.

Greene (2008) afirma que a presença de fatores não observados, neste caso os termos de resistência multilateral, correlacionados com as demais variáveis explicativas, assinala a estimação por efeitos fixos como a mais adequada, uma vez que a estimação do modelo por efeitos fixos permite a inclusão dos termos de resistência multilateral como fatores não observados na equação empírica, evitando o viés causado pela omissão dessas variáveis. O problema que ocorre quando esses termos são omitidos está relacionado à sua correlação com o termo que representa os custos de transação.

Ainda segundo o autor, na estimação por efeitos fixos, assume-se que as variáveis não incluídas no modelo estão correlacionadas com as variáveis incluídas e, embora o intercepto possa divergir entre os países, o intercepto de cada país não varia com o tempo. A estimação é realizada pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários, em que são incluídas variáveis dummies para efeitos fixos, levando em conta a heterogeneidade entre os países e permitindo que cada um tenha seu próprio intercepto.

Desta forma, visto que o objetivo deste trabalho é analisar os efeitos da crise sobre as exportações brasileiras, torna-se mais adequado utilizar somente o Brasil na forma de exportador, indicando a necessidade do uso de dummies apenas para os países parceiros do Brasil.

Diante deste contexto, é importante destacar que o modelo gravitacional geralmente é utilizado para analisar as relações bilaterais entre os países, porém, dado o objetivo deste trabalho, torna-se mais conveniente considerar apenas o Brasil como o país exportador, adotando assim uma análise unilateral. Diversos foram os trabalhos que adotaram a abordagem unilateral, utilizando apenas um país em um dos lados do fluxo, dentre eles, Karov et al. (2009), Mata e Freitas (2008), Fassarela (2010) e Bittencourt (2013).

Deste modo, conforme o modelo teórico proposto por Anderson e Van Wincoop (2004), a equação empírica (13) foi estimada pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) com efeitos fixos por países.

Na estimação da equação empírica, espera-se que o coeficiente da variável utilizada para tamanho do mercado dos países (apresente sinal positivo, ou seja, quanto maior o produto dos PIB's dos países i e j, maior tendem a ser as exportações brasileiras. Diversos trabalhos já adotaram o produto dos PIB's como medida da renda em equações gravitacionais, dentre eles destaca-se Bittencourt, Larson e Thompson (2007) e Bittencourt (2013). Os custos de transporte estão representados pela variável de distância entre os países, em que se espera um sinal negativo para o coeficiente desta variável, visto que o aumento da distância (aumento dos custos de transação) entre os países é inversamente proporcional ao nível de comércio. Essa distância representa uma resistência ao fluxo comercial, que é dada por elementos de natureza econômica, como os já referidos custos de transporte e ainda os custos de informação. Assim, a distância pode ser considerada como uma proxy para os gastos ou a resistência ao comércio. Espera-se, também, que os coeficientes dos índices de robustez macroeconômica apresentem sinais positivos, uma vez que, quanto maior tende a ser a robustez macroeconômica de um país, maiores serão suas relações comerciais. Para o coeficiente da variável tarifa, também se espera sinal negativo, uma vez que esta impacta negativamente sobre o volume comercializado entre os países. A variável dummy permite observar como as exportações brasileiras irão se comportar nos anos marcados pela crise, assim, acredita-se que esta variável indicará retração das exportações neste período.

3.3. Fonte de dados

Neste estudo, foi utilizado um painel de dados referente às exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para seus principais parceiros comerciais em um intervalo anual de 2000 a 2011. Os Estados Unidos e os membros da União Europeia foram incluídos em virtude do impacto sofrido com a crise e por responderem por parcela significativa (cerca de 30% em 2011) das exportações brasileiras. Os demais países utilizados na amostra foram selecionados de acordo com a representatividade nas exportações brasileiras no ano de 2011. Inicialmente, foram selecionados 47 países parceiros comerciais do Brasil; porém, em virtude da restrição na disponibilidade dos dados completos para a realização do estudo, três países foram excluídos da amostra, a saber: Angola, Bolívia e Índia.

O painel de dados foi construído seguindo a classificação do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH), um método internacional de classificação de mercadorias baseado em uma estrutura de códigos e respectivas descrições. No caso do presente trabalho, foi utilizado o Sistema Harmonizado formado por seis dígitos (SH6). Esta composição dos códigos do SH permite que sejam atendidas as especificidades dos produtos, tais como origem, matéria constitutiva e aplicação, em um ordenamento numérico lógico, crescente e de acordo com o nível de sofisticação das mercadorias.  

Os dados referentes às variáveis taxa de inflação e taxa de desemprego foram obtidos no site do International Monetary Fund – IMF . Os dados referentes à taxa de câmbio foram obtidos no site do United States Department of Agriculture – USDA, e os dados referentes à taxa de juros foram retirados no anuário International Financial Statistics do International Monetary Fund – IMF. Estas variáveis foram utilizadas na construção do Índice de Robustez Macroeconômica através da Análise Fatorial.

Em relação aos dados do PIB, estes foram obtidos no site do World Databank. A base de dados para a variável distância foi obtida no Centre D'Estudes Prospectives et d'Informations Internationales – CEPII, que se referiu à distância em quilômetros entre as cidades mais populosas para cada par de países. Os dados para as tarifas foram retirados junto ao site do Market Access Map – MACMAP, que se referiu à tarifa média aplicada por fator agregado para cada país.  Por fim, os dados referentes às exportações foram obtidos no site do World Integrated Trade Solution – WITS da United Nations Commodity Trade Statistics Database – UNCOMTRADE. Os PIB's e as variáveis de fluxo foram expressas em milhões de dólares.

4. Análise e discussão dos resultados

Os resultados apresentados na Tabela 1 se referem à estimação dos coeficientes da equação gravitacional expressa em (13) por meio do modelo de efeitos fixos (dummies para países) por mínimos quadrados ordinários (MQO). Neste caso, como só o Brasil atua como país de origem, não foi necessário colocar dummy para país exportador, desta forma, as dummies inseridas foram para os países parceiros comerciais do Brasil. A inserção desta dummy permite controlar os efeitos fixos para cada país que não são diretamente observados e são invariantes no tempo.

É importante ressaltar que as estimativas para os coeficientes das variáveis dummies para países não foram apresentadas na Tabela 1, uma vez que não possuem interpretação clara e seus resultados não são relevantes para as conclusões. Estas são usadas com o intuito de evitar que sua omissão afete os resultados.

Os resultados obtidos mostram que os coeficientes foram, em sua maioria, significativos, além de apresentarem o sinal esperado (Tabela 1). Além disso, por meio do teste F, a hipótese de que todas as variáveis não explicam o comportamento das exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados foi rejeitada a 1% de significância nas estimações para todas as três categorias de produtos.

Tabela1 – Estimativas da equação gravitacional empírica (13) por meio do modelo de efeitos fixos por mínimos quadrados ordinários (MQO), 2000 a 2011

Variáveis

Básicos

Semimanufaturados

Manufaturados

lnYiYj

0.808***

0.715***

0.520***

 

(0.070)

(0.068)

(0.045)

lndij

-1.838***

-2.636***

-2.849***

 

(0.225)

(0.372)

(0.096)

lnTij

-0.008ns

-0.176ns

-0.990***

 

(0.005)

(0.444)

(0.264)

Irmi

0.264***

0.048ns

0.049ns

 

(0.066)

(0.064)

(0.045)

Irmj

0.042ns

0.078**

-0.077***

 

(0.026)

(0.038)

(0.027)

Cr

-0.008ns

-0.331***

-0.171***

 

(0.095)

(0.087)

(0.056)

const

-1.295ns

6.525*

17.315***

 

(3.057)

(3.754)

(1.717)

Observações

528

523

528

0.93

0.93

0.96

Teste F

338.7***

239.79***

414.81***

Fonte: Resultados da pesquisa.
Nota: Erros-padrão robustos apresentados entre parênteses.
*** denota significância a 1%;
** denota significância a 5%;
* denota significância a 10%;
ns  não significativo.

Legenda: lnYiYj é a multiplicação das rendas (PIB's) dos países i (Brasil) e j (ou seja, a participação da renda dos países i e j na renda mundial) expressos em milhões de dólares; dij é a distância entre os países i e j; Tij é a tarifa média aplicada sobre as exportações brasileiras; Irmi é o índice de robustez macroeconômica para o país i (Brasil); Irmj é o índice de robustez macroeconômica para os países j, e; Cr é uma dummy para captar os efeitos da crise, que assume valor 1 para os anos 2008, 2009 e 2010.

De acordo com os resultados para o produto dos PIB's (YiYj), ou seja, tamanho dos mercados, todas as categorias de produtos apresentaram o sinal esperado e foram significativos a 1% de probabilidade. Resultado este que é respaldado pela teoria do modelo gravitacional, em que um aumento no nível de renda dos países eleva a quantidade exportada pelo Brasil. Estes resultados indicam, por exemplo, que o aumento de 1% no nível de renda dos países eleva em 0,8% as exportações brasileiras de produtos básicos.

No que se refere à variável distância (dij), o coeficiente encontrado foi significativo e negativo para os produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados, estando de acordo com o preconizado pela teoria, ou seja, quanto maior a distância entre os países, menor o volume de comércio entre eles, visto que uma maior distância eleva os custos de transporte. Pode-se verificar, por exemplo, que o aumento de 1% na distância em km gera uma redução de 2,85% nas exportações brasileiras de produtos manufaturados. Pelos coeficientes apresentados para essa variável, pode-se constatar ainda que a distância possua maior impacto sobre as exportações de produtos manufaturados.

Os coeficientes apresentados para a variável tarifária mostraram-se com sinal esperado para as três categorias de produtos, porém, não significativa para os produtos básicos e semimanufaturados. A significância estatística desta variável a 1% para os produtos manufaturados denota a sensibilidade destes produtos ao impacto negativo das tarifas sobre as exportações brasileiras. A elevação de 1% nas tarifas médias aplicadas aos produtos manufaturados reduz, por exemplo, as exportações brasileiras em 0,99%.

Resultados semelhantes foram encontrados por Bittencourt (2013), em que o coeficiente da variável tarifária para o setor agrícola se mostrou negativo e não significativo, revelando a pouca sensibilidade dos produtos básicos à imposição de tarifas. É importante ressaltar também que o baixo valor dos coeficientes encontrados para a variável tarifa demonstra que estas variáveis já não impactam tanto os fluxos de comércio entre os países, tendo em vista que estão relativamente baixas e que o efeito final pode se tornar irrisório proporcionalmente aos fluxos.

Ainda nesta perspectiva, Anderson e Van Wincoop (2004), em um estudo sobre os custos incidentes sobre o comércio, encontraram um coeficiente muito pequeno para as tarifas sobre o fluxo de comércio. Porém, eles enfatizaram a importância das tarifas nos dias atuais e recomendam a permanência dessa variável no modelo para evitar que outras variáveis captem o efeito da sua omissão.

Os coeficientes estimados para a variável que representa o índice de robustez macroeconômica para o Brasil (Irmi) foram positivos, de acordo com o esperado, para as três categorias de produtos em estudo, porém foi significativo apenas para os produtos básicos. Tal fato sinaliza a sensibilidade apresentada pelos produtos básicos às oscilações financeiras que provocam distorções nas principais variáveis macroeconômicas internas que foram utilizadas na construção deste índice. Tal situação se mostra coerente com o fato de cerca de 70% das exportações brasileiras serem compostas por commodities, e que, de fato, oscilações internas nesta magnitude podem sim impactar as exportações brasileiras. Dessa forma, quanto maior a robustez macroeconômica apresentada pelo Brasil, maiores serão as exportações brasileiras de produtos básicos. Este resultado indica, por exemplo, que o acréscimo de uma unidade no índice de robustez macroeconômica do Brasil aumenta as exportações brasileiras de produtos básicos em 0,26%.

É importante ressaltar que este índice tem como objetivo captar de forma agregada as oscilações nas variáveis econômicas usadas na sua construção (taxa de juros, taxa de câmbio, taxa de inflação e taxa de desemprego) e interpretar o resultado dessas oscilações em termos da robustez macroeconômica dos países. É importante destacar também que a variabilidade dos índices para os países importadores é muito maior do que para o país exportador (Brasil), já que a base de dados desta pesquisa se caracteriza como uma base unilateral, ou seja, só existe um país como exportador, assim a variabilidade das variáveis que compõem o índice do Brasil é bem menor.

Em relação ao índice de robustez macroeconômica para os países parceiros do Brasil, os coeficientes apresentaram o sinal esperado – positivo – para os produtos básicos e semimanufaturados, sendo significativo para os produtos semimanufaturados e manufaturados, a 5% e a 1%, respectivamente. Esse resultado revela que os produtos que passam por algum processo de industrialização são afetados pelo nível de robustez macroeconômica dos países parceiros do Brasil, ou seja, os produtos semimanufaturados e manufaturados são impactados pelas oscilações financeiras que provocam distorções nas principais variáveis macroeconômicas externas, provocando variações nas exportações brasileiras desses produtos, bens que o Brasil vem perdendo participação em suas exportações.

O resultado indica que o aumento de uma unidade no índice de robustez macroeconômica dos países importadores resulta no aumento de 0,08% nas exportações brasileiras de produtos semimanufaturados. Por outro lado, o sinal do índice apresentado para os produtos manufaturados foi contrário ao esperado, ou seja, negativo.

Bittencourt (2004), que analisou os efeitos da volatilidade da taxa de câmbio real no comércio setorial entre Brasil e os países do Mercosul, destacou, em sua análise, que as políticas desencontradas entre os países podem ser consideradas uma das causas da maior variabilidade de variáveis macroeconômicas (como taxa de câmbio) e de preços, o que traz impactos adversos ao comércio bilateral devido ao comportamento de aversão ao risco dos agentes econômicos.

Assim, a falta de coordenação das políticas macroeconômicas adotadas pelos países pode ser prejudicial ao comércio, causando distorções nas principais variáveis econômicas e influenciando de maneira adversa a comercialização de produtos entre eles.

A não significância encontrada para o índice de robustez macroeconômica dos países parceiros do Brasil para os produtos básicos ratifica a relevância brasileira como fornecedor de matéria-prima (produtos básicos) no comércio entre os países. Esses produtos são essenciais para os países importadores do Brasil como forma de manter a economia interna aquecida principalmente em um período marcado pela crise. Assim, os países irão importar do Brasil preferencialmente matéria-prima para produzir internamente e garantir a geração de emprego e renda. Dessa forma, a robustez macroeconômica dos países importadores tende a impactar menos sobre as exportações brasileiras de produtos básicos.

Para a dummy de crise, inserida no modelo gravitacional para captar os efeitos diretos da crise, os coeficientes apresentaram o sinal negativo de acordo com o esperado para as três categorias de produtos. Para os produtos básicos, a dummy apresentou-se não significativa. O menor coeficiente apresentado por esta variável, embora não significativo, está de acordo com a análise dos dados estatísticos em que os produtos básicos foram os menos afetados pela crise financeira iniciada nos Estados Unidos.

Para os produtos semimanufaturados e manufaturados, esta variável foi significativa ao nível de 1% de significância. Corrobora, mais uma vez, a análise dos dados estatísticos que mostram o maior impacto da crise sobre as exportações brasileiras de produtos semimanufaturados e manufaturados. Os resultados indicam, por exemplo, que houve uma redução de 0,17% nas exportações brasileiras de produtos manufaturados e de 0,33% nas exportações brasileiras de produtos semimanufaturados nos anos marcados pela crise.

O maior impacto da crise sobre estes produtos retrata ainda a maior elasticidade-renda que estes possuem em relação aos produtos básicos, portanto, qualquer variação na renda provocada por fatores externos, como a crise, pode resultar em uma maior variação na compra destes produtos, tendo em vista que não são considerados tão essenciais. Outro fato é a queda propriamente dita do consumo, causada pela redução da renda, que induzem os países a importar bens mais necessários.

Em síntese, os resultados encontrados para as estimações da equação gravitacional empírica para as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados revelam que a crise internacional provocou impactos sobre as exportações brasileiras, seja de forma direta, captada pela inserção da dummy de crise seja de forma indireta, pela inserção do índice de robustez macroeconômica que captou as oscilações nas principais variáveis econômicas, que em um período marcado pela crise certamente sofreriam alterações. Além disso, constatou-se que os impactos da crise foram maiores sobre as exportações brasileiras de bens com algum grau de processamento, neste caso, os produtos semimanufaturados e manufaturados, em detrimento dos produtos básicos.

5. Conclusões

A crise financeira internacional, iniciada no mercado americano de hipotecas de alto risco, em meados de 2007, expandiu-se para uma crise global e sistêmica, propagando-se de variadas formas e em diferentes graus, por toda a economia mundial. No caso do Brasil, a crise financeira internacional interrompeu o ciclo de crescimento do comércio exterior, propagando-se para o lado real da economia por intermédio de diversos canais de transmissão, financeiros e reais.

Diante deste contexto, tendo-se em vista a integração das economias e a disseminação da crise sobre as nações, o presente trabalho se propôs a avaliar os impactos da crise internacional sobre as exportações brasileiras de produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados para os principais parceiros comerciais, no período de 2000 a 2011.

Os principais resultados obtidos pelo presente estudo sugerem que as exportações brasileiras para os parceiros comerciais selecionados são afetadas pelos níveis de renda, pela distância e pelo papel desempenhado pelas tarifas aplicadas ao comércio. Como esperado, o aumento do nível de renda, as menores distâncias e a redução das barreiras tarifárias contribuem para aumentar o comércio brasileiro com esses países.

Os resultados apresentados para as tarifas evidenciaram a sensibilidade dos produtos manufaturados ao impacto negativo das tarifas sobre as exportações brasileiras. Para os produtos básicos e semimanufaturados, esta variável apresentou-se não significativa.

Em relação à análise dos impactos de variáveis macroeconômicas sobre as exportações brasileiras, os índices inseridos nas equações gravitacionais apresentaram o comportamento próximo ao esperado, indicando que o aumento da robustez macroeconômica dos países resulta em um acréscimo nas exportações brasileiras. O índice de robustez macroeconômica para o Brasil apresentou-se significativo apenas para os produtos básicos, já o índice construído para os países parceiros do Brasil apresentou-se significativo para os produtos semimanufaturados e manufaturados. Assim, pode-se concluir que o índice de robustez macroeconômica do Brasil é mais importante para explicar o comportamento das exportações brasileiras de produtos básicos, ou seja, a estabilidade econômica interna favorece as exportações brasileiras desses produtos. Para os produtos manufaturados e semimanufaturados, a robustez macroeconômica dos países importadores é mais relevante para explicar o comportamento das exportações brasileiras desses produtos.

Por fim, é possível afirmar que a crise internacional restringiu as vendas externas, uma vez que os países afetados respondem por parcela significativa das exportações brasileiras. Desta forma, as exportações foram limitadas tanto pela restrição de renda dos países quanto pela oscilação nas variáveis macroeconômicas.

Faz-se pertinente ressaltar que algumas limitações foram encontradas para a realização desta pesquisa. Primeiramente, foram encontrados desafios em relação à obtenção da base de códigos dos produtos por fator agregado, de acordo com a versão disponibilizada pelo Wits, site pelo qual foram baixados os fluxos de exportação e importação. Em segundo lugar, encontram-se as dificuldades na obtenção de alguns dados para todos os países que foram utilizados na amostra.

Para trabalhos futuros, sugere-se a expansão da amostra, fazendo-se o uso de fluxos multilaterais entre os países. Sugere-se também que a análise seja realizada de forma mais desagregada para captar os efeitos em relação a alguns produtos em específico.

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Vol. 36 (Nº 19) Año 2015

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